segunda-feira, abril 17, 2006

Reunião de bens adquiridos



Quando se começa um projecto musical, poucos conseguem adivinhar o seu futuro, e mesmo os mais optimistas não arriscam a cair no ridículo e na humilhação de um palpite exagerado. Há 15 anos atrás foi assim em Bristol. Uma banda que edita com sucesso repentino "Blue Lines", e que ninguém pensaria no início dos anos 90, que chegaria a este ponto, eleitos como os autores de uma estética e de uma linguagem pop, por vezes sombria mas sempre brilhante, e que se orienta pelas linhas mestras do hip-hop, reggae, soul, rock e downtempo.
Eles são os Massive Attack, uma banda de inglesa, pais do trip-hop britânico, a par dos Portishead. Oficialmente são compostos por 3D (Robert Del Naja) e Daddy G (Grant Marshall). Horace Andy tem uma importante participação em todos os álbuns da banda, assim como Nicolette. Realce para os ex-Massive Adrian "Mushroom" Vowles e Tricky, também eles consagrados na cena electrónica mundial. Apesar de fundados em 1987, só em 91 editam o primeiro álbum, seguido de "Protection" (1994), "Mezzanine" (1998), "100th Window" (2003), "Bullet Boy" (2005). Pioneiros no género, apenas dois nomes rivalizam com os autores de "Collected", os já referidos Portishead de Beth Gibbons, e a dupla de Washington Thievery Corporation.
Hoje em dia, 3D encontra-se cada vez mais isolado na criação do projecto. Mas nem sempre foi assim. As canções eram uma constante libertação, dando a entender existir uma linha condutora da madureza dos anos com a alma. Tornaram-se célebres as parcerias com nomes de luxo. Convidados de primeira classe, que se enquadravam na filosofia de cada tema. Contudo, depois de Shara Nelson, Tony Brian, Nicolette, Tracey Horn (Everything But The Girl), Elizabeth Fraser (Cocteau Twins), Sara Jay e Sinead O'Connor (isto já para não falar de Horance Andy ou de Tricky), a banda de Bristol conseguiu ser ainda mais caprichosa e convidar Terry Callier para cantar o seu novo single «Live With Me», que serve de amostra para este "Collected". O tema é simplesmente brilhante, com uma alusão óbvia às sonoridades de “Blue Lines”.
Além dos clássicos, encontramos lados B e raridades, e claro está, o DVD acoplado que nos concede um bilhete mágico para uma viagem pelo imaginário cuidado dos telediscos do grupo.

É esta a proposta da semana, com natural destaque no Deep Café de quarta-feira.

quinta-feira, abril 06, 2006

Com flamenco na veia


O Flamenco é uma arte do sul de Espanha, nomeadamente da Andaluzia. Divide-se em três partes que são o canto, o baile e a guitarra. As primeiras informações acerca desta forma de cultura datam do ano de 1774, quando Cadalso escreveu as "Cartas Marruecas" e atribui as culpas aos ciganos por esta peculiar forma de manifestação social e cultural.
Séculos depois, pelo ano de 2002, a transformação dá-se, e o flamenco reinventa-se! Surgem uns malaguenhos que fundem o flamento gitano com o chillout moderno. O resultado é "Flamenco Chill". Oito temas originais inseridos numa colectânea de música de inspiração flamenca. Daí saem grandes hinos como "Instinto Humano" e "Verde Mar".
De imediato são considerados os pais do FlamencoChill, em que as notas do flamenco se mesclam com os sons e ambientes do chillout e lounge. Impulsionados pelas mais de 90.000 cópias do primeiro álbum, partem para uma nova obra-prima. Finalizado em 2004, sai ao mercado "Endorfinas en la mente".
O que outrora foi um projecto arrojado e arriscado, passou com segurança e mestria a ser uma orientação na música electrónica actual. Melodias com raiz, elegância e frescura, tradição e modernidade. O fantástico "Ahí estás tu" imortalizou-se através de publicidades, colectâneas e expansão radiofónica! Como sempre o será, a música de novo demonstra como pode ser intemporal e se adapta sem pudores às novas exigências e modas. Atenção às vozes de Eva Jimenez e de Mari, cristalinas e limpas como as águas da costa andaluza. Realce para a continuidade dada em 2005 com o mais recente álbum da carreira dos Chambao "Pokito a poko". Em breve, e no seguimento da musica electrónica de fusão, o devido realce ao nosso projecto nacional e original Chillfado.

terça-feira, abril 04, 2006

I´m not a monkey...


Bonobo, o chimpanzé anão, é um primata oriundo do centro do continente africano. Bonobo, o artista da Ninja Tune, desde 1999 que colocou Brighton no mapa da cena musical electrónica. Simon Green, é o nome deste produtor, músico e Dj. Pouco ou nada podemos comparar entre estes dois seres, senão mesmo o facto de se encontrarem em vias de extinção. Com o calor e glamour dos filmes franceses dos anos 60, e o sabor do hip-hop horizontal, Bonobo, aglutina o melhor que ainda se faz na Ninja Tune com os últimos traços do chillout inteligente.
Tudo começou com a compilação "When Shapes Join Together", do selo Tru Thoughts Recordings. A Mute desafiou-o para voos mais altos, mas a confirmação da qualidade de Simon em "The Scuba EP" e do single "Terrapin", blindou definitivamente a saída desta editora. O progresso e evolução na Tru Thoughts e Ninja Tune resultam no álbum de estreia "Animal Magic". Como armas e argumentos, Bonobo apresenta downtempo de bom arcaboiço, dub de bom sangue, funk e low-fi q.b.. Beats de algodão, melodias indeléveis e evocações cinematográficas - Eis uma noite Bonobo!
O ano transacto foi lançado o álbum de misturas "Live Sessions EP", mas nem mesmo os vários Ep´s, singles e misturas ao vivo retiram a importância e protagonismo que "Dial 'M' For Monkey" consegue ter.
Músicos certos, escolhidos a dedo, ensaios pagos do própio bolso, e actuações ao vivo memoráveis são os ingredientes que fortalecem o sonho de um artista. Trabalhou no anonimato, o que lhe proporcionou a segurança suficiente para trabalhar à vontade. E depois dos shows em Glastonbury, The Big Chill, Jazz Cafe, e sets exóticos da Italia à Russia, a madurez bateu-lhe à porta! Novidades, muitas! Misturas pesadas de hip-hop, jazz em doses light, broken beats, Latin, e a funk e soul costumeira.

Mais uma sugestão Deep Café, que por mais tempo que passe, terá sempre na sua playlist o som terno e doce de Flutter. Regresso embalado a uma possível infância e meninice!