quinta-feira, maio 25, 2006

É a crise, é a crise! Mais parece um vírus!



Swayzac é um projecto bem conhecido por não se prender a géneros e muito menos a catalogações.
Formado por James Taylor e David Brown, no final da década de 80, entretinham-se a misturar ambient a hip hop. Por aquela altura, o trip-hop dava os primeiros passos, e eles juravam que não tinham nada a ver com a entrada em cena de mais um estilo musical. E não tinham mesmo. É que os Swayzak passeiam-se entre os entre vários estilos, sem nunca aí residir definitivamente. Criam atmosferas! É esse o seu mundo.
Dífícil é acreditar que estes senhores deambulam tanto que dentro da música electrónica acabam por praticar estilos tão díspares como o tecno, tec-house, house, electro, ambient e chillout.
Depois de tantas misturas, subsiste a ideia que ficaram estacionados num dub techno minimalista, com características bem fortes e evidentes nas linhas de baixo, vocais com efeitos e ecos. Este “Route De La Slack” surge depois de quatro álbuns e uma série de remisturas. Remixes EP e Rarities EP, O primeiro, como o próprio nome diz, contém os melhores remixes da dupla. Já o segundo disco traz faixas raras ou nunca antes lançadas. Básicamente, e numa opinião modesta, estas músicas são uma tentativa da dupla se reinventar. É a inevitável retrospectiva que se poderia intitular "Best of". Acaba por ser um álbum desequilibrado, que se junta a tantos outros que este ano têm visto a luz do sol...mais parece que mereciam a luz das trevas!
Enfim, e como nem tudo é negro, a matéria-prima alheia resulta numa primeira parte satisfatória, onde a imaginação anda a par com a magnífica capacidade técnica da dupla em concretizar as suas ideias. O pior vem com os lados B. Dúvidas conceptuais que hesitam em hipotéticas certezas. São excelentes ideias mal concebidas, um amargo contra-senso perceptível na confiança exagerada da programação. Nem sempre quantidade é qualidade, e ao menos este álbum, se tiver algo de útil, é de servir de mau exemplo.


E já que este ano, decididamente, são vários os projectos que nos privaram da sua veia artística, resta-nos acalmar as tribos. É que ela existe, mas numa componente mais modesta e "lazy". É o mesmo vírus que atacou os Nightmares On Wax e os Thievery Corporation. Agora é chegada a vez dos Swayzac e dos Tosca de Richard Dorfmeister e Rupert Huber. Depois dos britânicos, arrancamos para os austríacos. "Souvernirs", em vez de ser um "Best Of", colectânea ou retrospectiva, é nada mais nada menos que um exercício de remisturas, não de temas de artistas famosos, mas sim do último álbum "J.A.C." de 2005. Meu Deus, há assim tanta falta de inspiração, ideias, formatos, projectos ou concepções?!...É certo que no álbum há nomes sonantes como Stereotype, Rodney Hunter, Henrik Schwarz, Madrid de los Austrias, mas grandes ingredientes nem sempre fazem um bom bolo! Ajuda, mas não chega!
No mundo da música, existe o sub-mundo da remistura. Vivem em simbiose e de mãos dadas.
O problema é quando temas deste álbum se afastam do tema-base e reforçam o cliché que o original é sempre o melhor. É pena, mas a falta de criatividade só gera uma situação: boas remisturas, bem interessantes, mas que poderão correr sérios riscos de serem ouvidos uma só vez.
A realidade é esta, e aqui no Deep Café esperamos por melhores dias. A música somos nós, e todos nós temos altos e baixos. Como sempre os melhores àlbums serão escutados nas galerias do Deep Café...e de agora em diante...os menos bons também!

segunda-feira, maio 08, 2006

Querem crise? Tomem lá crise!


Depois de um àlbum que vende mais de 100 mil cópias só nos E.U.A. (The Cosmic Game - Fev.2005), a fasquia sobe de forma considerável. Mas não é nada de mais para quem sempre foi fiel ás suas origens e às linhas mestras do projecto Thievery Corporation (TC).
Contudo, e apesar do contínuo sucesso de vendas, a critica a cada àlbum é sempre a mesma, agravando-se na dureza e na agressividade. Já se diz que este àlbum poderia ter saído há 10 anos que ninguém notava. A vida de um artista é assim mesmo e Eric Hilton e Rob Garza, já devem estar bem habituados.
Para quem não sabe, estes americanos sempre foram defendidos no Deep Café, e esta vez não será excepção. A realidade é esta: os TC passam por um momento de falta de inspiração! É um facto! Mas não deixaram de fazer boa música! Um caso semelhante foi aqui retratado no blog, e que se passa com os britânicos Nightmares On Wax. Com os TC surgiu um novo trip-hop que angariou subditos em todo o mundo, e empolgou (e de que maneira) os amantes mais conservadores de Massive Attack e Portishead. A realidade (a meu ver) é que esta encruzilhada criativa tem uma explicação simples. Este àlbum é um passo ao lado e não em frente. Não é suposto ser uma novidade ou uma nova fase. É apenas o responder a um pedido que foi feito à medida que os TC iam crescendo e se iam notabilizando! As encomendas surgiram em própia mão por nomes como Norah Jones, Astrud e Bebel Gilberto, Isabelle Antena, entre outros, que queriam os seus temas com novas sonoridades, e em roupagens mais jamaicanas e brasileiras. Assim sendo, quem melhor que os TC? Todos conhecemos as suas obras que transpiram dub, reggae, hip-hop, bossa-nova e funk! Não há crise! Não se assustem!Não vejo este hiato como uma crise. É certo que há desgaste e pouca evolução, mas o lado positivo é revelado em remisturas raras nunca editadas, com o ecletismo como base comum.
Astrud Gilberto sai vencedor por K.O. pois "Who needs forever" é uma revigorante proposta plena de variações! A cada um deixo o critério de avaliação, mas em abono da verdade, temas como os de Nouvelle Vague e de Emilie Simon, ainda vão embalar muitas tardes de pôr-do-sol. Do único original incluído no disco, resulta uma bem sucedida parceria com a lenda do reggae Sister Nancy. É aqui que confiamos que o bloqueio criativo não será a fatalidade irremediável por muitos temida.
Aos já bem dissecados "Sounds from the Thievery Hi-Fi", "The Mirror Conspiracy", "The richest man in Babylon" e "The Cosmic Game", junta-se agora este "Versions", e que para quem precisa se confirmação será já apresentado ná próxima emissão do Deep Café. Boas visitas nas galerias do Deep Café...

quinta-feira, maio 04, 2006

El tango no muere!


No longínquo ano de 1998 surgiu um dos grandes projectos de musica electrónica que consegue cativar qualquer leigo, ou o mais distraído seguidor de música.
Foi pela ideia do guitarrista Eduardo Makaroff que tudo começou. Ele conhece Philippe Cohen-Solal, músico e fundador do selo discográfico Ya Basta!, que por aquelas alturas trabalhava com o suiço Christoph Müller. Um provém de Buenos Aires, e destacou-se no mundo do rock, mas ingeriu tango. Os outros dois são sócios há alguns anos, escultores de vinil e artífices de sons. Assim, decidem pôr em comum as suas habilidades com o propósito de elaborar uma síntese inédita, entre tango e música electrónica. Criam o nome: Gotan, inversão das sílabas de "tango", em alusão ao modo de falar que se usa tanto em Paris como em Buenos Aires.
Os dados estão lançados, e na boa verdade, o jazz de fusão deu um bom mote com exemplos práticos como St.Germain ou De-Phazz. Seria a vez do tango se insurgir no meio da electrónica actual.
Através de experiências com clásicos, como "Vuelvo Al Sur" de Astor Piazzolla, compositor que soube impôr o novo tango, decidem aproveitar o espírito, em detrimento das letras. Convocam uma equipa de entendidos: uma espanhola, uma violinista de formação clássica, um par de argentinos de París (Nini Flores no bandoneão e Gustavo Beytelmann no piano). Esta selecção teve o condão de abordar o desafío rítmico com as orientações adequadas. Só por sí, o dub será o factor de união indispensável, e a pedra fulcral que suportará todo o mecanismo de invenção e produção.
Depois de provetas e tubos de ensaio, consegue-se "Vuelvo Al Sur", com direito a um lado B, "El Capitalismo Foráneo". O desfile de grandes temas prossegue com "Tríptico", "Santa María (del Buen Ayre)", etc. Pressionados a lançar um àlbum surge"La Revancha Del Tango". Estamos no ano de 2001.
Mais tarde, em 2004, sai um DJ set de Gotan Project seleccionado e misturado por Philippe Cohen Solal.Durante a tourné (2001-2003), Philippe Cohen Solal desejou juntar grandes temas numa compilação « Inspiración • Espiración ». Este projecto reune dois temas originais de Gotan Project com tangos raros e funky, versões inéditas confrontadas com as novas tecnologias da música electrónica.
Agora em 2006, eles são os mesmos mas diferentes. Mais maduros, sóbrios, e com a experiência adquirida nos 5 anos de tourné pelo mundo, acumulada em aeroportos ou estúdios obscuros. O própio single de estreia -"Diferente"- o indica. Continuam grandes compositores com os mesmos pretextos melódicos que se inspiram nos maiores de todos os tempos como Carlos Gardel, que influencia o título do álbum, "Lunático" (o nome do cavalo de competição de Gardel). Para este novo álbum, o trío reforçou a sua colaboração com o pianista Gustavo Beytelmann, um argentino que vive em París há mais de 25 anos. Sem esquecer as canções e letras agri-doces que Cristina Vilallonga dá vida e voz. Mais um disco genial deste projecto franco-argentino que nos deixa a sensação que o tango não morreu! Reinventou-se como Lavoisier dizia: nada se perde, tudo se transforma!Estreia do àlbum "Lunático" já na próxima emissão do Deep Café, com claro destaque para o single "Diferente".