terça-feira, junho 27, 2006

Visita ao jardim do Éden


O regresso em 2006 da dupla britânica Henry Binns e Sam Hardaker, está assombrado pelo espectro do último encontro. "The Garden", é o terceiro registo da dupla, que tem segundo muitos, aspecto de ser o último (sinceramente, parece ser mais um bluff da indústria musical).
Dois anos depois de "When It Falls", encontram-se bem delineadas novas abrangências sonoras. Elementos orgânicos conferem um ambiente acústico que se imiscuem nas tendências psicadélicas.
O som apesar de tudo, revelam-se mais em linha de continuidade que de mudança. Podemos contar com o bom chillout e downtempo a que nos habituaram, sendo adornado com pequenos motes trip-hop. Como sempre, na parceria vocal temos Sia, a quem se junta José Gonzalez, músico sueco.
Esta simbiose de novos elementos com a alma original dos Zero 7 gera uma pequena e estranha crise existencial. Não deixando de ser um bom àlbum, é evidente que se ambiciona algo mais que aquilo que os popularizou. Fica a questão se seguirão os pergaminhos do muito bem sucedido "Simple Things" (rota escolhida por muitos projectos musicais este ano, que regressaram às origens), ou se optarão por pisar terrenos novos e desconhecidos, sujeitando-se a uma operação plástica de personalidade e carácter musical. Se tivéssemos apenas a soul e a folk para nos ajudar, estaríamos em apuros, pois encontram-se em doses iguais e não permitem grandes distinções. Mas as recordações ao álbum de 2001 "Simple Things" e as comparações com a pop francesa, fazem a balança pender para a opção um. A questão é difícil demais para uma resposta de cruzes, que poderá ser ponderada sem prazo de validade.

Catalogações - Um mal necessário?

Apesar de aliciante, este é o tema que desde sempre considerei dos mais controversos e complicados de debater: a catalogação constante da música actual.
Quem vagueia pelo mundo da música, sabe que ela se divide em grupos, vertentes, estilos, modas, géneros, etc... Pior ainda, é quando entramos neste blog e constatamos que dentro da electrónica surgem um sem fim de marcas, que apelidam as habilidades sonoras dos projectos e grupos mencionados.
Não há dúvidas que a fusão é a principal arma da música electrónica, e a partir de uma base como a música de origem hindú, do tango, do fado, do jazz, do flamenco ou tribal, podemos criar uma obra prima simplesmente adicionando-lhe uma batida trip-hop ou um ritmo lounge. Mas também não há dúvidas que esta saturação de catalogações é da responsabilidade da indústria que procura incessantemente novos artistas, e por arrastamento, novos estilos e géneros, sempre na ânsia de surpreender. Temos o chillout, que se ramifica em downtempo ou ambient, temos o lounge que também pode ser deep-house, há o trip-hop agrupado com o dub, o jazz de fusão ou nu-jazz, o electrofunk, e como se não fosse suficiente e ridiculo, aparecem o chillhouse, o electrodub, e outros mais, mas que não disfarçam esta aparente fusão da fusão.
Até que ponto não será perigoso etiquetar cada àlbum que sai, ofuscando o nome do artista ou do projecto? Até que ponto não será complicado entrar numa roda, cujo ciclo nos conduz à origem? Será o resultado (mais um) da globalização?
A opinião do Deep Café é a mesma de há uns anos atrás. Vivemos em excessiva atribuição de estilos, que não são novos, apenas possuem uma roupagem nova e fazem-se passar por atracção momentânea.
Deixem os vossos comentários e opiniões. O debate a vós pertence.

sexta-feira, junho 16, 2006

Reset 2006


Vai ter lugar na próxima terça-feira, dia 20 de Junho, por volta das 20h, a inauguração do Reset 2006 - II Mostra de Projectos de Finalistas de Design & Multimédia.
Em simultâneo, serão também exibidos e projectados filmes de alunos de Cinema.
Este evento irá decorrer entre os dias 20 e 25 de Junho na Parada (Polo 1) da Universidade da Beira Interior (UBI), Covilhã. Sob a orientação do Departamento de Comunicação e Artes, todos os dias serão preenchidos por mostras de Design & Multimédia, projecções de filmes e debates com os respectivos realizadores.
Destaque, claro está, para a Chillout Party que vai ocorrer no primeiro dia do evento, por volta das 22h, e que contará com a minha presença (Dj_Fly) como um dos Djs de serviço, e em representação da RUBI/Deep Café.
Para mais informações fica o contacto telefónico: 275.319835 e 275.319825, ou então www.ubi.pt

quarta-feira, junho 14, 2006

XVII Emissão

Nouvelle Vague - O Pamela
Telepopmusik - Last train to wherever
Nitin Sawhney - Sunset
Madredeus - Andorinha da Primavera (Dusted Mix)
Yonderboi - Amor
The Karminsky Experience Inc. - Departures
Jazzamor - Fly me to the moon
Dusted - Always remember to respect and honour your mother
Lambchop - Up with people (Zero 7 Mix)
Thierry T. - Barco Negro
Digital Analog Band - The million euro weekend
Bossacucanova - Lounge W
Bangguru - Time Loser
Thievery Corporation - From creation
Kinobe - Mama´s girl
Groove Armada - My friends (Dorfmeister & MDLA)
Tiefschwarz - Fly
Mylo - Musclecars (Reverso 68 Mix)
Jay-Jay Johansen - Forbbiden Words
Tosca - John Lee Hubber (Rodney Hunter Mix)
Boozoo Bajou - Blast
Cinematic Orchestra - Channel 1 Suite
Zuco 103 - Peregrino
Nacho Sotomayor - Y por que te quiero
Mirwais - Disco Science

segunda-feira, junho 12, 2006

Gelatina de limão, refrescante e inovadora!


É curioso falar dos Lemon Jelly, pois para muitos são os Led Zeppelin da música eletrônica.
Sem a presença de Robert Plant e Jimmy Paige, este projecto rock-electrónico é formado por Fred Deakin e Nick Franglen que, além da música, se encarregam dos projetos gráficos e da embalagem de todos os seus lançamentos. Deakin é o DJ e designer, tendo no seu currículo uma prestigiante relação com a revista "The Face". Por seu turno, Franglin é um produtor que tem como orgulho pessoal, a honra de trabalhar com Björk e Primal Scream.
Lançado o ano passado, temos à nossa disposição "64-95". Um àlbum simples, com temas de base eletrônica, e criadas sobre samplers de canções de uma vasta colecção particular da dupla inglesa. Apesar de ser considerado o terceiro álbum dos Lemon Jelly, na verdade este é mesmo o segundo disco de originais, já que o primeiro editado em 2000, era na verdade uma espécie de colectânea dos primeiros singles do grupo inglês.
A comparação com os Led Zeppelin começa na sua ambição e vontade de fazer rock'n'roll épico para encher estádios, mas sem nunca descurar a vertente electrónica que são os pilares do seu trabalho. Mesmo assim achou-se necessário colocar um aviso na capa do álbum dizendo que "o novo álbum de Lemon Jelly é diferente do anterior" (Lost Horizons de 2002). Lançado pela editora independente inglesa XL Recordings, "64-95" apresenta nove faixas de músicas que vão de swing/dub, ao estilo tech-house, passando pela tradicional batida do rock. Todas começam em formato "crescento" adicionando em formas sobrepostas instrumentos, sons e efeitos recreativos.
Segundo o site da dupla, "64-95" é um álbum baseado em samplers provenientes da colecção particular de vinis. Assim se explicam os títulos das faixas. Cada um traz o ano da música sampleada e o apelido da música: " '88 aka Come down on me", retirado da música "The Blue Garden" de 1988, da banda norte-americana Masters of Reality. Não se esqueçam de conferir o single (belíssimo, por sinal), que cheira a algo épico "Come down on me".
A parte gráfica do novo álbum é apetitosa, colorida e traz o título dos álbuns em forma de ilustração, um paralelo com as próprias músicas, onde o vocal não é cantado e sim ilustrativo. No final, o único aspecto negativo prende-se com o já referido site oficial da banda, que está sediado nas Ilhas Caimão, um conhecido offshore. O problema não é esse, mas sim que é deveras decepcionante, tendo em consideração os projetos gráficos da dupla. Esta página digital fica aquém das espectativas, mas não há nada melhor para quem quer mais e melhores informações dos Lemon Jelly que recorrer ao site da editora XL-Recordings.
Como sempre, o aval do Deep Café fica dado, proseguindo a apreciação nas emissões da Rubi.


quinta-feira, junho 01, 2006

Alma Lusitana, corpo mundial...


Não é própiamente uma novidade, e seguramente já muitos travaram conhecimento com esta "recente" forma de música electrónica. Falamos do Chillfado, que surgiu há sensivelmente 2 anos.
Tão simples quanto possível, é a fusão entre a música mais clássica e genuína que possuímos, e o estilo musical que este blog retrata, a música de vertente electrónica. Há casos posteriores que também poderiam receber algum destaque, tais como A Naifa ou Donna Maria, mas foi mesmo este projecto que trilhou pergaminhos, e que preencheu a lacuna que faltava.
São notáveis as marcas da promiscuídade do reggae, bossa-nova, jazz, flamenco, oriente (Indía e China), entre outros, com a música designada como chillout, ambient, dub ou trip-hop. Nesta linha de pensamento e actuação, era óbvio que deveriamos oferecer ao mundo o que de melhor temos: o fado. É a nossa herança cultural que se funde com o jazz, algum blues,e muito dub e chill Out.
Assim, a lógica recaiu sobre os grandes nomes da cultura fadista. É incontornável não referir os nomes de Amália Rodrigues, Zeca Afonso, Carlos Paredes. É um àlbum que se estranha ao inicio, mas o própio Fernando Pessoa dizia que primeiro estranha-se, e depois entranha-se. E o certo é que ao vivo, o espectáculo supera o àlbum de uma forma trancendente. As vozes de Viviane (Entre Aspas), Paulo de Bragança, e Wanda Stuart transfiguram-se e confundem o habitual consumidor pop.
Além destes, outros nomes também reforçam a selecção de tugas que defendem o fado: Mariza, António Pinto Basto, e Carlos Maria Trindade. Entre os produtores, alguns já se encontram na galeria dos reconhecidos. Renoiser armazena experiência com os ColdFinger e os Lisbon City Rockers, enquanto que Thierry T. foi quem lançou o primeiro àlbum de House em português. Outros nomes vieram de longe, mas com a mesma ânsia de trabalhar esta nova vertente musical. Falamos de Fidu e Eddie Jam, Moçambique e Bélgica respectivamente.
É certo que os conservadores poderão nem sequer piscar o olho a esta novidade, mas em benefício da dúvida, nada melhor que verificar por vós própios. Não é um excelente àlbum, é certo, mas é o primeiro passo, e o mais importante, para infiltrarmos o nosso dedo nas miscelâneas que já existem.
Claramente uma das aposta do Deep Café, que em jeito de mea culpa aqui tráz a nobre homenagem que o Fado merecia. Versão Electrónica.